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Dilemas Morais e Você

Dilemas morais são uma das ferramentas favoritas de todo o mestre para adicionar um pouco de drama em suas campanhas. Porém, frequentemente eu me deparo com histórias de tentativas de dilemas morais que não acabaram da forma que o mestre imaginava. Este artigo irá explorar alguns dos erros mais comuns que mestres cometem quando introduzem estes dilemas à suas histórias.

Não conhecer os seus personagens

O primeiro, e mais óbvio erro, é não considerar de antemão as escolhas que os personagens dos seus jogadores irão provavelmente fazer. Um dilema moral apenas é um dilema moral se ele existe em uma área cinzenta da moralidade, que é na verdade relativa aos conceitos de moralidade de cada personagem. Personagens que creem fortemente no bem coletivo não irão exatamente encontrar dificuldade em resolver uma situação onde ele precisaria deixar um morrer ou sofrer para salvar muitos.

Mesmo assim, um dilema não precisa estar firmemente no cinza para todos os membros da party. Quando diferentes membros da party discordam, isso também gera o debate e o questionamento necessário para o dilema ser efetivo mesmo quando cada membro tem uma opinião forte a respeito da solução correta. Porém, quando os conceitos de moralidade da party estão alinhados, seu “dilema” será rapidamente resolvido e esquecido.

Punir os jogadores pela escolha

Dilemas morais bem construídos são assim porque eles não possuem uma escolha certa. Eu já ouvi diversas histórias de mestres que introduziram um “dilema moral” e então puniram os jogadores por terem feito uma escolha. Paladinos caíram e personagens foram presos por realizar o que é simplesmente uma escolha impossível. Se o mestre faria o paladino cair por qualquer escolha, então ele é um babaca. Se ele decide que existe uma resposta certa e uma resposta errada, então não é um dilema, mas sim um puzzle que força os jogadores a tentar adivinhar o que o mestre considera como sendo a resposta correta.

Um dilema moral é algo bom e ruim. É um sucesso e um fracasso. É uma vitória e uma derrota. Após a escolha ter sido feita, os personagens devem sentir pesar pelo que sacrificaram, mas consolados por aqueles que eles salvaram. É um fim “agridoce”, por assim dizer.

Não dar aos jogadores informações

Eu vou usar uma história que eu recentemente li como base para esta parte do artigo. Nesta história, o mestre conta como ele construiu um encontro onde os jogadores estão rastreando um grupo de bandidos que sequestraram uma pessoa. Os jogadores chegam no covil dos bandidos e uma batalha começa. Dos bandidos, cinco são homens e dois são mulheres. Durante a batalha, o monge ataca uma das mulheres. O mestre narra (segundo o mestre, os jogadores deixam que ele descreva os ataques) que o monge soca a mulher no estômago. A mulher então se dobra em dor, derruba e arma e grita “Meu filho!”

Pasmem, ela estava grávida.

Agora, eu tenho alguns problemas com essa narrativa. Ela é um clássico exemplo de “armadilha moral”. Uma armadilha moral difere de um dilema moral no que se refere à quantidade de informações que os jogadores foram dados para realizar a escolha. Neste caso, o mestre nunca deu nenhuma indicação de que a mulher estava grávida, e usou a sua liberdade de narração de combate, confiada à ele pelos seus jogadores, para forçar o monge a realizar uma ação “imoral”.

Se os jogadores precisam lidar com um dilema moral, eles também precisam ter a maior quantidade de informações possível para guiar suas escolhas. Se algo é revelado após o jogador ter feito uma decisão irreversível, ele não pode ser responsabilizado pelo resultado porque ele nunca foi capaz de realizar uma escolha informada. Forçar o jogador a socar a mulher (secretamente) grávida no estômago e apresentar isso como uma ação imoral que o personagem deveria se envergonhar de ter realizado é uma tremenda falta de respeito com ele.

Na história, ele descreveu como ele preparou rotas por diplomacia e negociação, e os jogadores ignoraram isso e foram direto para o combate. Isto é uma forte indicação que o mestre também cometeu o primeiro erro: Ele não conhecia seus jogadores tão bem quanto ele deveria.

A segunda evidência das tentativas de forçar este dilema moral nos jogadores é a própria presença de uma mulher grávida no combate. Devemos questionar a decisão dele de colocar aquela mulher no combate em primeiro lugar. Logicamente, uma mulher grávida não tentaria lutar, mas sim se proteger. O mestre teve muitas oportunidades de dar a dica para os jogadores de que ela estava grávida antes do ataque acontecer, mas ainda assim decidiu omitir qualquer informação até que fosse tarde demais.

Se você absolutamente deve ter que fazer a party agir sem todas as informações (como eu admitidamente fiz em uma sessão recente em que eu mestrei), não puna eles por isso. No meu caso, os jogadores haviam sido contratados para escoltar uma caravana até outra cidade. O comerciante disse os jogadores que ele já estava a dias anunciando o trabalho mas não havia encontrado ninguém. Durante a viagem, o grupo foi atacado por um grupo de 5 bandidos que tentaram colocar os jogadores para dormir com uma bomba de gás sonífero. Após uma breve batalha, os bandidos foram mortos.

Na sessão seguinte, os jogadores descobriram que eles haviam sido enganados. A guarda imperial não patrulhava mais a região e um grupo de bandidos resolveu mudar de ramo e formar uma companhia de segurança, protegendo as estradas e cobrando pedágio dos comerciantes para financiar a operação. O comerciante não havia pagado o pedágio e havia decidido contratar aventureiros para escoltá-lo, algo que lhe custaria menos dinheiro. Se um comerciante furasse o pedágio, a companhia de segurança confiscava a mercadoria.

Em um encontro com o líder da companhia, ele deixou claro que, apesar de não estar feliz de ter perdido cinco homens, ele não culpava os jogadores, afinal eles foram manipulados pelo comerciante. Os jogadores estavam apenas se defendendo do que eles, com razão, viam como um ataque.


Dilemas morais são uma ótima forma de injetar humanidade em um jogo que frequentemente existe em mundos preto-e-branco. Implementar um dilema moral é uma tarefa difícil, desastrosa se feito da forma errada, mas muito valioso se feito da forma certa. Espero que este artigo ajude vocês a usar essa ferramenta ao máximo de seu potencial!

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