Pular para o conteúdo

Descrevendo um cenário de batalha

Uma coisa que acontece frequentemente durante combate é a Síndrome do Acerta-Erra. Essa síndrome é caracterizada pela falta de descrição de combate além de “acertou” e “errou”. Vamos tomar o seguinte cenário como exemplo:

Tormir está se preparando para atacar o Orc War Chief. Sua espada firme em sua mão. Tormir levanta a sua reluzente espada e ataca o Orc.

Mestre: Rola o ataque.

Tormir: Rolei 15.

Mestre: Você erra.

Pô, erra? A Classe de Armadura do Orc War Chief é 16. Tormir tirou apenas 1 a menos e ele erra? Erra no sentido de “completamente errar o Orc com sua espada, atingindo nada a não ser o ar”?

É importante lembrar que um RPG de mesa não é como um MMORPG. Não existe muito auxílio visual quando nós jogamos um RPG de mesa, portanto nós dependemos muito da descrição do mestre para formar uma imagem mental boa da situação. Uma batalha que não é nada além de “erra, acerta, acerta, erra, erra, erra, acerta, erra, acerta, acerta” faz tudo parecer extremamente mecânico, e foge completamente da imersão que muitos de nós buscamos em um RPG.

Então como fazer para resolver essa situação? Primeiro é bom esquecer as palavras “acerta” e “erra”. Existem centenas de outras formas de descrever essa cena. Vamos também considerar que Tormir chegou muito perto da CA do inimigo e adicionar um pouco de sabor:

Mestre: “Sua espada atinge a armadura do Orc, deixando uma longa marca.”

Mestre: “O Orc bloqueia sua espada com o seu escudo.”

Mestre: “O Orc para sua espada no último segundo com o seu machado, o fio a centímetros de seu rosto.”

E se Tormir rolou muito abaixo da CA do inimigo:

Mestre: “O Orc rápidamente se esquiva de sua lâmina.”

Mestre: “Sua espada passa a centímetros do corpo do Orc.”

Qualquer coisa que descreva a cena com mais detalhes é melhor do que “acerta” e “erra”. Se você acha que uma descrição mais longa é muito entediante, então considere usar outras palavras tão curtas quanto “acerta” e “erra”, porém mais descritivas. Ao invés de “acerta”:

  • Corta, perfura, fere, danifica, esmaga… Em caso de magia: Congela, queima, destrói, desintegra, corrói…

Ao invés de “erra”:

  • Esquivado, bloqueado, defletido… Em caso de magia: repelido, disperso…

Mas chega de falar de mestres, vamos falar de jogadores. Para um RPG ter uma boa imersão, é necessária a colaboração tanto do mestre quantos dos jogadores. O problema dos jogadores é a Síndrome do Eu Ataco.

Para muitos jogadores, esse é o limite da descrição que eles irão dar à suas ações de ataque: “Eu ataco”. Jesus Cristo Correndo em uma Piscina, que tipo de descrição mais sem sal é essa? Gente, vocês estão jogando uma aventura épica, e vocês são o seu personagem. Imagine ele caminhando em direção do inimigo, tirando a espada de sua bainha, dizendo alguma frase de efeito foda e cortando ele com um único movimento diagonal de sua poderosa lâmina. Encha o peito de diga:

Tormir: “Eu ergo minha lâmina para os céus e com um rápido movimento, ataco o Orc do seu ombro até sua cintura!”

Rapaz olha quanto visual você acabou de dar para os outros jogadores, e quanto material você deu para o mestre evoluir mais ainda a cena. Vamos imaginar que você atinge o seu golpe:

Mestre: “Sua lâmina corta o Orc em diagonal, rasgando a sua cota de malha que não é párea para o poder de sua lâmina. O Orc cambaleia para trás, sangue cobrindo o chão. Sua cota de malha, cortada ao meio, cai ao chão, porém o Orc continua vivo.”

Uma descrição como essa é capaz de adicionar novas dimensões e abrir novas possibilidades durante a batalha. O Orc perde sua armadura, ou um ponto fraco se abre que um ataque perfurante é capaz de tirar vantagem. Até mesmo se você não conseguir superar a CA do inimigo:

Mestre: “A cota de malha do inimigo para a sua lâmina. O Orc ri de seus esforços e se prepara para o contra-ataque.”

Subitamente a batalha está mais viva, os inimigos mais reais e a ação mais emocionante, e tudo isso apenas mudando a forma como as ações são descritas.

2 comentários em “Descrevendo um cenário de batalha”

  1. Bem legal! Eu sempre bato nesta tecla, enquanto narrador e jogador. E penso que a narrativa deve ser compartilhada, permitindo outros jogadores descreverem no lugar do mestre, por exemplo. Assim envolve quem não está em sua vez de jogar.

    Outra estratégia é deixar os outros jogadores rolares os dados pelos adversários.

    Apresentar filmes/seriados ou apenas cenas de combate de filmes/seriados também pode ajudar.

    Gilson

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *